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Servo conta tudo a repórteres da TV Morena e Folha de S.Paulo

24/06/2007

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Servo conta tudo a repórteres da TV Morena e Folha de S.Paulo

O ex-deputado estadual pelo Paraná, Nilton Cezar Servo, preso na Operação Xeque-Mate e apontado pela Polícia Federal como principal envolvido na exploração de máquinas caça-níqueis, abre o jogo e conta tudo sobre o esquema em entrevista exclusiva aos jornalistas Cláudia Gaigher, repórter da TV Morena/Rede Globo, e Hudson Corrêa, da Folha de S. Paulo.
A entrevista foi solicitada ao advogado de Nilton Cezar, Eldes Rodrigues, pela jornalista Ana Raquel Copetti, produtora da TV Morena. Na entrevista, ele minimiza o tamanho da operação da Polícia Federal, diz que não é chefe de máfia e garante que emprestou dinheiro ao irmão mais velho do presidente Lula, Genival Inácio da Silva, o Vavá, mas sem pedir nada em troca. Porém, contradisse Vavá, que havia declarado ter pedido R$ 2 mil. Segundo Servo, o irmão do presidente pediu de R$ 10 mil a R$ 15 mil, mas lhe emprestou R$ 6 mil.
"Na verdade, ele pediu mais. Pediu de R$ 10 mil a R$ 15 mil, mas emprestei R$ 6 mil", diz Servo na entrevista aos repórteres Cláudia Gaigher e Hudson Corrêa. Servo disse o empréstimo foi por amizade. Sobre a Operação Xeque-Mate, considera que há um equívoco da Polícia Federal, porque não há, segundo ele, coordenação e nem chefia de máfia para exploração de caça-níqueis. Nilton assegura que trabalhava com 180 a 200 máquinas de caça-níqueis com amparo de liminar da Justiça.
Ele também nega sociedade em casa de jogos em Ilhabela, no litoral paulista. Dario Morelli, compadre de Lula, que agora está solto, não teria nenhuma relação comercial ou sociedade, embora tenha declarado em seu depoimento que recebia R$ 1,5 mil para trabalhar no local.

Sobre a relação com parentes e amizade com o próprio presidente, Sérvio disse que "em março ou abril de 2003" ligou ao presidente para pedir a regularização dos bingos. Lula, disse, mandou criar uma comissão. Mas o caso Waldomiro Diniz, em 2004, deixou "Lula de saia curta": "Lula não é contra os bingos".

ÍNTEGRA

Veja a seguir os principais trechos da entrevista de Nilton Cezar à TV Morena e Folha de S. Paulo:

Cláudia Gaigher (TV Morena) –
O que o sr. tem a dizer sobre a máfia dos caça-níqueis?
Servo
– Existem mais de 10 mil pessoas envolvidas nesse negócio no Brasil. Eu não sou chefe de grupo algum. A minha família iniciou tal atividade quando foi implantada a Lei Zico, depois a Lei Pelé, depois a Lei Maguito Vilella, e hoje nós estamos ainda continuando na atividade por uma medida provisória ainda vigente no Brasil, que tem força de lei, que autoriza o funcionamento de bingos e máquinas eletrônicas programadas.
Cláudia Gaigher – E sobre a acusação de que essas máquinas eram montadas com componentes contrabandeados ou importados de forma fraudulenta?
Servo
– A Polícia Federal, sempre nesse caso, respeitou a nossa sentença federal da 3ª Região [Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo] e respeitou a medida provisória que ainda é existente. A Polícia Federal até agora não provou que nenhum equipamento locado por nós tenha tido item contrabandeado.
Hudson Corrêa (Folha de S.Paulo) – Que decisão é essa a que o sr. se refere do Tribunal?
Servo
– Eu me refiro a uma medida provisória porque a Lei Maguito Vilella era uma lei que estipulava que a lei teria prazo, depois ela passou a ter vacância porque dentro de um período era obrigado que se regulamentasse ou senão a lei deixaria de existir. O presidente Fernando Henrique Cardoso emitiu uma medida provisória que está válida até hoje, que tem força de lei. Então ninguém comete crime. O único crime que pode supor é o crime de contrabando, mas para tê-lo tem que provar e a PF não provou nada contra Nilton Servo.
Hudson Corrêa – O sr. falou 10 mil pessoas envolvidas. Que número, que estimativa o sr. tem disso? Quem são as pessoas?
Servo – É uma estimativa porque o Brasil inteiro desenvolve esse tipo de atividade comercial. No Brasil todo, existem milhares e milhares de pessoas. Eu acredito que mais de 10 mil pessoas estão envolvidas.
Cláudia Gaigher – Que tipo de jogo seria?
Servo – Hoje existem mais de mil bingos no Brasil, com certeza, e hoje os caça-níqueis são explorados pelos donos de bares, restaurantes, lanchonetes e similares. Então existe, quando eu falo o número de 10 mil pessoas, eu acredito que existem mais de 100 mil pessoas envolvidas nesse momento nesse tipo de atividade que não é minha, minha atividade de caça-níqueis de bar e restaurantes, não. Eram bingos em Maringá, Curitiba, Foz do Iguaçu (PR), bingos em Campo Grande, bingos em São Paulo e hoje eu não tenho mais bingo. Estava com os bingos eletrônicos por força de uma medida provisória e por força de uma sentença federal da 3ª Região que, salvo engano, é válida hoje.
Cláudia Gaigher – Com relação, o sr. disse que tinha uma casa de bingo em São Paulo. Dario Morelli era seu sócio?
Servo – Veja bem. Dario Morelli nunca foi meu sócio. Dario Morelli é meu amigo. Eu falo assim, que na Bíblia, existe um versículo que existe “amigo é muito mais que um irmão". E o dario é mais que meu irmão.
Cláudia Gaigher – Mas, nas conversa do próprio Dario ele cita o sr. como sócio dele, inclusive cita que vocês estariam pensando em abrir uma casa de bingo em Manaus, uma casa de bingo em São Sebastião (SP) com 30 máquinas caça-níqueis.
Servo – Olha, se ele falou isso, o Dario, acho que não condiz ele ter falado isso. Eu tenho uma amizade muito extensa com o Dario, uma amizade muito íntima com o Dario. Claro que eu tinha projetos de abrir mais casas de bingo onde essa sentença fosse respeitada. Essa sentença federal que eu tenho parceria com essa empresa chamada Paradise, em São Paulo, que é uma montadora de equipamentos e tenho essa sentença até hoje, essa sentença federal, e o Dario sempre foi meu amigo que sempre me ajudou em tudo, o que eu precisava, mas eu nunca convidei o Dario para ser meu sócio.
Cláudia Gaigher – Há quantos anos o sr. é amigo dele?
Servo – Eu sou amigo do Dario há mais de dez anos.
Cláudia Gaigher – Mas a sentença que o sr. diz, ela foi dada pela juíza lá em São Paulo, e ela foi parar no Tribunal de Justiça em São Paulo.
Servo – Até poucos dias atrás era vigente essa sentença federal. Eu não sei, eu estou preso há 19 dias, eu não sei se ela é vigente ainda, mas eu quero dizer que o próprio juiz, aqui de Campo Grande, na apreensão dos equipamentos, a única família que a peticionou em juízo para o próprio juiz doutor “dal” [?] pedindo a liberação dos equipamentos, apresentando notas fiscais, apresentando a sentença, fomos nós. Ele disse que nós éramos pessoas indiciadas para pedir, quem tinha que pedir era a Paradise, que era proprietária dos equipamentos das máquinas.
Cláudia Gaigher – Se o sr. não era sócio do Dario Morelli em Ilhabela (SP), de quem era a Deck Bingo?
Servo – Eu tinha pego essas máquinas em parceria com a Paradise e tinha aberto essa loja do Deck Bingo para dar uma força para um primo meu, Renato Prata, certo? Com certeza absoluta eu tinha participação.
Cláudia Gaigher – Agora o próprio Dario numa conversa disse ao funcionário, Tiago, que o Renato aparecia apenas como o dono, que seria um laranja, mas que os donos eram o sr. e o Dario Morelli.
Servo – Não, negativo. Eu nunca trabalhei com essa figura “laranja”. Sempre as empresas foram no meu nome. Eu só deixei de ter empresas no meu nome depois que eu fui impossibilitado de tê-las pelo fechamento dos bingos, a começar por uma arbitrariedade cometida pelo Requião [governador Roberto Requião] no Paraná. Em cima dessa arbitrariedade nós tivemos sanções, é… problemas de aluguéis atrasados, ações trabalhistas, uma série de dificuldades que inviabilizou totalmente o meu nome. Como minha família estava adentrando no ramo, meus meninos adentrando no ramo, mas a infelicidade é de me ver hoje com a cabeça raspada e estar… ter sido preso num presídio de segurança máxima, isolado, ter a cabeça raspada, mexendo na dignidade, é ver também no dia das apreensões e prisões, um menino meu de 19 anos de idade, que estuda e está adentrando no ramo de música agora, está se preparando pra isso, ficar preso dez dias.
Hudson Corrêa – Com relação ao Dario Morelli. Ele fazia o quê nessa Deck Vídeo?
Servo – Acontece o seguinte. Eu tenho uma longa amizade com Dario Morelli Filho e o Dario Morelli tem uma casa em Caraguatatuba (SP). Quando eu iniciei essa atividade na Ilhabela com o Renato, com certeza absoluta eu precisava de um favor do Dario… Ele nunca deixou de fazer um favor para mim…
Hudson Corrêa – Ele era funcionário do senhor?
Servo – Não. Ele nunca foi meu funcionário. Ele sempre foi meu amigo, mas um amigo servidor. Amigo companheiro.
Hudson Corrêa – No depoimento ele disse que era funcionário do senhor e que ganhava R$ 1,5 mil por mês.
Servo – Veja bem. Eu nunca disse que daria 1,5 mil para o Dario por mês e que pagaria 1,5 mil para o Dario por mês… Eu quero dizer o seguinte, que como nas travessias que temos que fazer de barco de Caraguá para Ilhabela, o barco custa gasolina, combustível, né, e talvez tenha sido isso, porque eu acho que para abastecer um tanque é R$ 500.
Hudson Corrêa – O sr. Germano é funcionário do senhor?
Servo – Não. Não era funcionário.
Cláudia Gaigher – Mas qual o papel dele, se ele sabia tão bem dos negócios e em conversas gravadas do Dario Morelli com terceiras pessoas, não com o senhor, ele conta do negócio… De quantas máquinas, que está havendo a possibilidade de uma expansão para São Sebastião com mais trinta máquinas, uma possibilidade de expansão para Manaus… como uma pessoa que não está junto com o senhor nesse negócio tem tantos detalhamentos? Ele fazia o que para o senhor em Ilhabela?
Servo – Nos finais de semana o Dario fica em Caraguatatuba e eu nos finais de semana, quando estou lá, fico na sua casa em Caraguatatuba. Então o meu negócio sempre foi extremamente aberto. já faz mais de um ano que essa operação foi aberta com segredo de justiça. Todo mundo sabe da minha vida e dos meus negócios. Agora, onde eu ia montar ou deixar de montar, isso dependia de uma análise, dependia de uma pesquisa, mas todo mundo sabia da minha vida. Penso porque eu fui presidente nacional de uma associação de jogos de bingos em Brasília, em 1999. Fui depor no Congresso Nacional na CPI dos Bingos. Eu nunca fugi… Que eu exercia, nossa família exercia tal atividade, mesmo porque nós fomos influenciados pelo governo. Eu não conhecia bingo. Quem criou bingo, quem inventou bingo foi o Governo Federal, foi a Lei Zico, foi a Lei Pelé.
Cláudia Gaigher – Agora o sr. fala que a sua família sempre trabalhou com isso, e em toda investigação é possível ver que estava havendo disputa de território pelos grupos que exploravam jogos de azar e que explorava caça-níqueis, inclusive há uma conversa do sr. reclamando do João Catan e também do Andrei Cunha, que estava querendo entrar na justiça do trabalho. Entrar com uma ação contra o senhor. O que estava acontecendo naquele momento entre as pessoas que tinham essas casas?
Servo – O Jony Catan era meu sócio e o Andrei era meu funcionário. O Jony Catan, há cerca de 40 dias atrás ele resolveu cair fora da sociedade e o Andrei resolveu parar de trabalhar. Isso é o direito deles de parar e seguir a vida deles, né? E parece que seguiram com a mesma atividade. Não sei se tiveram como. Se estão tendo ou não estão tendo.
Hudson Corrêa – Com relação a questão do Vavá. O sr. conhece ele há muito tempo?
Servo – Eu sou amigo do Vavá há aproximadamente dez anos. Um pouco mais ou um pouco menos de dez anos. O tenho como grande amigo. Eu conheci ele através de reuniões políticas em São Paulo e encontros políticos.
Cláudia Gaigher – Mas na conversa de vocês ao telefone o sr. chega a alguns momentos a ser um pouco duro falando do próprio Vavá. E qual era a relação direta de vocês quando o assunto era negócio?
Servo – Eu nunca tive negócios com o Vavá. Simplesmente o Vavá está atravessando uma situação difícil, está apertado com problemas de saúde e não tem favorecimento nenhum do Governo Federal. Ele me pediu um dinheiro emprestado e eu falei que ia fazer força pra emprestar uns 10 ou 15 mil pra ele e acabei emprestando 6 mil, que ele usou até esse termo “vou te dar uma letra pra te pagar”. Eu falei "não precisa de letra, Vavá. Quando é que você pode me pagar?" Ele falou que até o final do ano, "vou ter décimo terceiro, essas coisas…"
Cláudia Gaigher – Nunca ele se dispôs a te ajudar em alguma questão relacionada ao jogo?
Servo – Eu nunca dependi de ninguém com relação ao Governo Federal ou Estadual, porque eu tinha uma sentença federal. Eu tenho uma medida provisória vigente. Diga-se de passagem que quando o sr. Luiz Inácio Lula da Silva, quando houve aquele envolvimento do Cachoeira com o Valdomiro, que houve aquele escândalo todo, que ficou provado a corrupção naquele momento, para acabar com o escândalo que ali existia, o Lula baixou uma medida provisória para acabar com os bingos, mas ele não baixou medida provisória pra acabar com os bingos… Para derrubar essa medida provisória existente foi a primeira perda do Lula no Congresso Nacional. Então ele sabe que existe essa medida provisória. Ele sabe que ele tem que respeitar essa medida provisória. Tanto é que ele fala o seguinte: o Congresso proíbe ou autoriza? Por que proíbe ou autoriza? Por que não é proibido. Existe uma MP por força com lei federal. então isso deixa de ser crime.
Hudson Corrêa – Quando ele (Vavá) chega pro sr. e relata esse problema de saúde, o que ele pede exatamente para o senhor?
Servo – Vavá fala que está atravessando uma situação difícil, que o filho dele… Eu não tinha contato constante com o Vavá. Uma vez por ano, duas vezes por ano, sempre mantive contato e algumas vezes até na própria chácara do Lula, quando o Lula ainda não era Presidente da República. Conheço toda a família do Lula, e o Vavá precisava de uma ajuda naquele momento que estava atravessando uma dificuldade com dívidas, com contas pra pagar. Pediu se eu podia emprestar R$ 10 ou 15 mil. Eu falei: “eu acho que é possível". Eu não os conheço pessoalmente e sabia que eu tinha muito conhecimento e eu indicava um advogado e, coincidentemente, no dia ele me ligou e eu estava em São Paulo, jantando com o Vavá. O Vavá escutou o assunto, virou e me falou – “Eu conheço um amigo meu em Brasília que é um grande advogado”. Depois eu retornei, dez, ou 15 dias, 20 dias depois pra esse amigo dizendo que tinha uma pessoa que podia indicar esse advogado. Mas eu pedi que meu irmão fizesse esse contato. E fiquei sabendo que “Azariaz” e o filho dele estiveram em Brasília, atrás desse advogado, mas tinham mantido contato com meu irmão Nivaldo, que é advogado também, mas que não atua nessa área que fizesse contato, participasse, né. E eles foram em Brasília e disseram que estariam chegando. Chegaram, meu irmão ligou depois do almoço para eles e eles falaram que já estavam no aeroporto indo embora. Eu fiquei chateado com o negócio. Eu queria saber se você conhece algum empresário nesse ramo que poderia sub-emprestar algo para essa empresa do meu amigo que atravessa uma dificuldade muito grande. Não, eu nunca tive tratores. Nem de esteira, nem de carregadeira. Vavá nem sabe o que é caça-níquel.
Hudson Corrêa – Sobre o Vavá, André Jairo, da região de Assis (SP), que tem conhecimento em Bonito, pergunta sobre ação no STJ contra usina de álcool. O Vavá se encontra com esse pessoal e o senhor fica bravo com o Vavá porque ele não atendeu o seu irmão. O que era esse negócio, exatamente?
Servo – Na realidade, o amigo meu de Bonito se chama Rodrigo. Pessoa que eu tive poucos contatos, mas Bonito é uma cidade pequena. Já fui candidato a prefeito, conheço todo mundo em Bonito. E ele me pediu, que ele tava com problema em Brasília com relação a uma ação que eles tinham contra a usina mas que quem tocava essa ação era o pai dele, que é advogado, chama-se César Arias, o irmão dele.
Cláudia Gaigher – O sr. disse que o Lula não era presidente. Então isso tem mais de seis anos?
Servo – Não, eu encontrei algumas vezes com o Vavá, inclusive na chácara do Lula quando ele ainda não era presidente. O pedido de dinheiro é recente. Eu acredito que esse pedido do empréstimo foi em janeiro, fevereiro, alguma coisa assim…
Hudson Corrêa – O sr. emprestou quanto e como pra ele?
Servo – Eu emprestei R$ 3 mil em espécie e R$ 3 mil eu pedi que um concunhado meu que trabalhava em São Paulo como engenheiro civil fosse levar pra ele mais R$ 3 mil (o Serra).
Cláudia Gaigher – Em algumas conversas o sr. parece muito irritado até com os pedidos de ajuda do Vavá.
Servo – Eu tinha conhecimento que essas conversas estavam sendo gravadas, porque existe um processo com segredo de justiça que estava desde junho do ano passado e na capa desse processo falava assim “denúncia contra contrabando e quebra de sigilo” e eu ficava preocupado de ficar conversando por telefone e, de repente, alguém saiu prejudicado só por estar conversando comigo. Então eu falava “poxa, o Vavá tá pedindo e eu não tenho mais condições de ajudar”.
Cláudia Gaigher – O sr. comentou com Dario Morelli essa preocupação?
Servo – Com certeza absoluta.
Cláudia Gaigher – Foi a única vez que Vavá te pediu dinheiro emprestado ou já aconteceu isso em outros períodos?
Servo – Não, nunca aconteceu. O Vavá nunca me pediu dinheiro emprestado. O Vavá é meu amigo, né? Tem toda a liberdade pra pedir: "Nilton, como que tá a situação? A minha eu tô aí administrando", e ele disse: "E eu tô numa situação difícil. Tô com contas para pagar, com dívidas de uma cirurgia e eu estava precisando de um empréstimo, entendeu? Posso te dar uma letra. Eu falei que não precisava. Eu queria ter tido o prazer de emprestar os 15 mil. Eu tenho esperança de receber esse dinheiro, com certeza absoluta. Agora se ele não tiver condição de pagar, ele é meu amigo e amigo você não vai apertar.
Claúdia Gaigher – O Vavá foi indiciado pela PF por tráfico de influência e exploração de prestígio. Não denunciado pelo MPF, que pediu novas investigações a respeito dele. Desse envolvimento não só com ele, mas também com outras pessoas que aparecem na gravação, como era a postura do Vavá quando vocês conversavam sobre negócios?
Servo – Eu nunca conversei com relação aos meus negócios. Minha atividade não tem ligação nenhuma com o governo. Mesmo porque o Lula se posicionou contra bingos. Quer dizer, o Lula não era contra bingo. Ele acabou se posicionando diante daquele escândalo que aconteceu com o Valdmiro e o Cachoeira, certo? Eu nunca tive empresa que prestou serviço para o Governo Federal direta ou indiretamente. Eu não tenho um centavo público na minha vida. Eu não tenho nada ligado com o governo. Eu não dependo de lobby junto ao governo.
Hudson Corrêa – O sr. disse que não tratou de negócios com ele, mas tem uma gravação telefônica que o sr. liga pra ele e fala assim “o homem teve aqui hoje em casa. O homem, o Lula, né? Falei dos negócios das máquinas”. Que máquinas eram essas?
Servo – Eu não lembro dessa ligação, de ele ter falado com relação das máquinas com o Lula, assim, numa ligação falando isso pra mim. Mas eu vendo através dos jornais eu sei que o Vavá tem um amigo, não sei se chama Paulo Roberto ou coisa parecida, que é um amigo que o Vavá gosta muito. Que tem uma empresa de solvente, que tem três ou quatro caminhões caçamba, três ou quatro máquinas ou pá-carregadeira, ou esteira, e que ele tava precisando que arrumasse uma empresa que sub-empreitasse algum serviço pra essa empresa, certo? Eu falei “por que você não vai direto ao presidente pedir?” Ele disse: “não, não vou pedir para o presidente para prestar serviço ao governo federal, mesmo porque isso é proibido, né? O Lula não vai fazer… nessa empresa, porque o cadastro deles em cima da inadimplência e em descumprimento de serviço e muitas restrições…
Cláudia Gaigher – O sr. disse isso? Quem disse que era o cadastro da empresa?
Servo – O Acácio disse.
Hudson Corrêa – Esse Acácio, o sr. tem o sobrenome dele, telefone?
Servo – Não. O Acácio eu fiquei conhecendo num almoço, em São Paulo. Salvo engano, no Fogo no Chão.
Cláudia Gaigher – O sr. estava dizendo que as máquinas caça-níqueis são uma terminologia até antiga. Há uma conversa com o Dario Morelli em que o sr. explica isso, que as máquinas recebem cédulas, não recebem mais moedas, uma tecnologia muito avançada. E ele fala sobre a compra da casa de Ilhabela, onde havia a possibilidade da polícia ir lá. Aí deixa claro, segundo a investigação da Polícia Federal, de que dois policiais civis ajudaram com informações, inclusive o próprio Dario mandando pagar R$ 1 mil a “enes” policiais pela ajuda que eles deram, por avisar antes. O Dario tinha esse papel?
Servo – Nós nunca pagamos propina para policiais, diga-se de passagem que no início das montagens da casa, o delegado de Ilhabela era totalmente contra a montagem, mas ele teve que respeitar a documentação que fora apresentada. Nós particularmente não nos entendemos bem, eu e o delegado, porque ele não queria respeitar a documentação. E essa nossa casa foi visitada pela Polícia Federal, teve uma perícia nos documentos, tiveram certidões e a PF pediu que a casa continuasse funcionando, a PF de São Sebastião.
Cláudia Gaigher – Como uma pessoa que não é seu sócio tem tanto conhecimento no seu negócio?
Servo – Deixa eu perguntar pra você. Se você morasse numa praia e eu fosse seu amigo, eu fosse na praia no fim de semana, e você estivesse lá e fosse solteira, qualquer coisa parecida, e eu pudesse ter a intimidade de ficar na sua casa, você ia ficar sabendo das minhas atividades, se tinha parque infantil, se tinha um carrinho de pipoca, se tinha uma sorveteria ou alguma coisa parecida. Se nós vamos caminhar juntos, se “nós toma” cachaça juntos, na hora que eu vou trabalhar, ele vai me acompanhar. Eu não sei se ele sabia do rendimento das máquinas, de quanto rendia, mas não sei se ele poderia perguntar para algum funcionário, mas isso porque o Dario é meu amigo de extrema confiança. Ele tinha toda a liberdade. Tanto é que a casa de Ilhabela já estava pra ser fechada porque não estava dando resultado. Nós tivemos que baixar o aluguel do Deck, que é de uma empresa que existe lá há mais de 40 anos. O aluguel era de R$ 5 mil. Prá nós darmos continuidade na atividade, baixamos o aluguel para R$ 25 mil, porque a casa estava sendo totalmente inviável.
Cláudia Gaigher – Então ele era seu amigo também na hora de gerir o negócio na sua ausência?
Servo – Não, não diria um amigo de gerir negócio na minha ausência, mas se eu sou vizinho de um fazendeiro e tô indo pra minha fazenda e esse amigo me pede pra levar um pneu pra fazenda, um câmbio, óleo ou gasolina, com certeza um tipo de favor, Dario nunca negou.
Hudson Corrêa – Nos diálogos, há contradições nos valores recebidos pelo Vavá. Dario disse que eram três mil, Vavá disse dois mil, o sr., seis mil. Eles estão mentindo?
Servo – Eu até um dia brinquei com o Morelli: você só tá tendo despesa com esse negócio. Eu acho que pelo menos pra pagar a despesa do barco de travessia, porque é muito mais rápido atravessar de barco de Caraguá a Ilhabela, pelo menos essa despesa eu acho que vou arcar com essa despesa. Eu acho que uns R$ 1,5 mil, mais ou menos isso, que eu acho que ele paga R$ 500 de marina, né. E pagava mais R$ 500 de um marinheiro. E mais 500 pra combustível. Então, ele tem entendido como salário, mas não seria um salário. Seria usar o amigo, o carro do amigo, abastecer o carro do amigo. Eu acho que o Dario Morelli acabou me emprestando dinheiro, entendeu? Do pouco dinheiro que ele tinha, ele acabou me emprestando e eu acho que devo pro Dario uns R$ 10 mil, R$ 8, 7 mil, ou alguma coisa assim.
Hudson Correa – Se ele não era seu sócio, mas seu funcionário, por que ele tratava dos negócios da casa com funcionários da casa? Com o Thiago, a Solange…
Servo – Veja bem, se eu estou à distância e eu preciso mandar um recado para uma pessoa, que esse papel na realidade quem tinha que fazer era o Renato, mas como o Renato também morava em Monguaguá, uma praia ligada a Cubatão (SP) ou coisa assim, então existia uma dificuldade. Como o Dario quase que constantemente está em Caraguatatuba, ele prestava esse tipo de favor que eu pedia pra ele.
Cláudia Gaigher – Por que você acha que tudo virou pizza?
Servo – Porque não tem provas de nada, não teve escândalo nenhum pesado, não existe nada contundente de contrabando, não existe crime porque existe uma medida provisória vigente que é lei. Isso na realidade, é abuso de poder.
Cláudia Gaigher – O Dario não falou a verdade quando disse que era seu sócio?
Servo – Ah, eu acho que ele faltou com a verdade, porque o Dario nunca foi meu sócio, certo? O Dario, simplesmente, eu te disse: eu ia dar uma pequena ajuda para contribuir nas despesas do barco, que poderia chegar a R$ 1,5 mil por causa das travessias.
Cláudia Gaigher – Você não está falando isso para proteger o seu amigo?
Servo – Não, não teria porquê. Porque eu não estou protegendo ninguém nesse momento. E nesse momento eu tenho a informação de que ele já foi indiciado, denunciado. quer dizer, não é a minha palavra neste momento que vai deixar ele ser indiciado ou denunciado.
Cláudia Gaigher – O Dario foi e o Vavá não.
Servo – Certo, então eu tô dizendo que a minha palavra de nada está valendo. Mesmo porque existe uma medida provisória que está aí desde 2001, ela tem força de lei, ela autoriza os jogos de bingo e máquinas eletrônicas programadas. Esse jogo é autorizado por uma medida provisória. Falta uma regulamentação de cobrança de impostos. Hoje existe uma vacância da lei, que o Lula não consegue derrubar essa medida provisória. O Lula, senhor presidente da República, se estiver me ouvindo, regulamente definitivamente isso. Isso é o mínimo de jogo. Existe jogo no mundo inteiro, só em dois países é que não existe. É um jogo muito enrolado, que é Brasil e Cuba.
Hudson Corrêa – O sr. já pensou em pedir isso pessoalmente ao Lula?
Servo – Quando eu conversava com o Lula, quando não era presidente da República, mas pré-candidato, abordava esse assunto. Eu fiz um pedido para o Lula por telefone quando o Requião tomou uma decisão em 2003 – o Lula já presidente da República – de fechar os bingos no Paraná de forma arbitrária, de forma ditatorial, com polícia, com repressão. Eu liguei na casa do presidente em São Paulo, ele me atendeu e eu falei: "Lula, o meu filho acabou de me ligar, ele está atravessando uma dificuldade muito grande em Curitiba, bingos fechados, funcionários atrasados, aluguéis atrasados, uma dificuldade muito grande. Eu gostaria que se olhasse com bons olhos para isso, regulamentasse definitivamente".
Hudson Corrêa – O que ele disse?
Servo – Ele disse que com certeza absoluta, ele ia fazer contato com o Ministro dos Esportes e ia analisar uma forma, se era possível regulamentar e depois eu voltei a manter um outro contato com o presidente via telefone. Quem atendeu foi o Aurélio, que é secretário também do lula, ele disse: “olha, o presidente avisou que já falou com o ministro”. Depois, mandei fazer contato direto com o ministro através de telefone e o ministro falou que já tinha constituído uma comissão mista, que inclusive ia para a Espanha, Europa, para analisar e discutir sobre a viabilidade do negócio. O negócio estava próximo para ser regulamentado, porque autorizado é!
Hudson Corrêa – Quem o ajudou a falar com o Lula?
Servo – Ninguém me ajudou. Eu tinha o telefone da casa dele, eu liguei na casa dele (…) Eu fui primeiro amigo do Lula pra depois ser amigo do Vavá, pra depois ser amigo do Dario.
Cláudia Gaigher – Não deu em nada essa regulamentação?
Servo – Essa regulamentação estava prestes a sair. Havia rumores em Brasília de que já estava pra ser editada uma medida provisória e, por conseguinte, a lei de regulamentação disso. Mas houve aquele escândalo do Valdomiro Gonçalves e do Cachoeria, que não é com relação às máquinas, nem aos bingos, que é com relação a um motivo muito maior. Existe uma empresa chamada Gtek, que comanda todos os outros jogos federais do Brasil. Ou seja, mega-sena, loto… ela tem o monopólio, um cartel. É uma empresa americana que tem as holdings aqui. Passou a se chamar Dream Import, que sócios dessa empresa que monopoliza, no passado foi uma concessão dada pra ele, era o ex-ministro Carlos Tibitia [?], era o ex-governador do Paraná, José Richa, e o Jorge Cury, também do Paraná.
Cláudia Gaigher – E o Zé Dirceu, já que era tão próximo…
Servo – Não, a briga do Cachoeira com o Valdomiro era porque ia ter uma nova licitação pra que essa empresa Gtek continuasse com a mesma atividade que continua até hoje no Brasil, que é o verdadeiro jogo mentiroso e de azar, certo?
Hudson – Por que a empresa teria saído do mercado?
Servo – Não, eu não sei porque tinha uma concorrência na ocasião porque o Valdomiro, pelo que eu vi na televisão e o que entendo de jogo, o Cachoeira tinha acertado com o Valdomiro que ele ia ter um quinhão desse mercado do Rio de Janeiro, tanto é que queria monopolizar todo o Brasil. Diga-se de passagem, as primeiras máquinas chamadas “caça-níqueis”, que na época era de moeda, trazidas pro Brasil, foi através dessa empresa que administra os negócios do governo federal. Um dos primeiros estados que ela teve monopólio foi o Paraná. Passou por Belo Horizonte, Santa Catarina e alguns estados. O que está acontecendo é uma guerra de poderes.
Hoje no Brasil existem indústrias de máquinas eletrônicas programadas, ou como vocês chamam, de caça-níquel, de multinacionais, como a de Joinville (SC). Existe a Franco e tantas outras… Hoje existem no Brasil mais de 100 indústrias de máquinas, com as portas abertas e vendendo. No próximo mês vai ter uma exposição em São Paulo, onde vão ser expostas e vendidas as máquinas. Então, se o governo de fato quisesse acabar com isso, ele tinha que proibir a exposição, a venda e a negociação. Só que o governo enfrenta uma barra muito pesada, ele enfrenta uma medida provisória que tá aí com validade…
Cláudia Gaigher – Não deu em nada pedir para o Lula?
Servo – Tava tudo pronto, ia aprovar. Vem esse escândalo do Valdomiro e o Lula no Nordeste deu um tiro, chamando os bingueiros de traficantes, lavadores de dinheiro. Nesse momento eu fiquei muito magoado com o meu amigo Lula. Depois eu entendi que naquele momento ele precisava de uma alternativa pra sair de um escândalo de uma pessoa diretamente ligada a ele e de confiança do Zé Dirceu.
Cláudia Gaigher – Mas se essas grandes podem fabricar, por que vocês não podem explorar?
Servo – Porque é cartel. Só os grandes, e os grandes não podem ser denunciados.
Cláudia Gaigher – Por que não podem?
Servo – Não poder eu não sei, porque deve ter rabo preso com alguém, eu não sei, alguma coisa deve acontecer, porque os grandes não estão envolvidos nesse momento. Está conhecendo o Nilton Cezar servo como o “chefe da máfia”, inclusive do Brasil, e foi falado em jornais de rede nacional, de todos as empresas de televisão e de todos os jornais do Brasil. Enquanto nenhuma dessas empresas foi sequer mencionada. Agora eu pergunto pra você, se eu sou o delegado da Polícia Federal, eu quero saber quem desenvolve tal atividade, qual seria o caminho? Eu teria que ir na Receita Federal, pegar o CNPJ das empresas que exercem tal atividade, ou ir à associação. Existem três ou quatro associações no Brasil e milhares de pessoas credenciadas. Eu mesmo fui presidente de uma associação nacional de jogos de bingos em Brasília. Como eu acabei de dizer, eu participei, eu fui convocado pra depor no Congresso Nacional, fui lá defender o interesse da regulamentação do bingo. Eu não disse que não era dono de bingo, eu não estou dizendo que não trabalho, não trabalhava. Não estou trabalhando hoje porque estou impossibilitado, porque estou preso, sem equipamento e já não querendo mais mexer com o mercado. Mas não estou mais querendo mexer com o mercado, mas quero lutar para legalizar.
Cláudia Gaigher – O senhor estava falando que o presidente ficou numa situação delicada. Por quê?
Servo – Porque naquele momento o Zé Dirceu, seu braço direito, chefe da Casa Civil, estava envolvido naquele escândalo. Ou ele afastava o José Dirceu ou ele criava um discurso. Ele arrumou um discurso, eu acredito que o Lula copiou o discurso do Requião no Paraná. O Requião mentiu para os eleitores do Paraná que ele iria acabar com pedágio, e como ele não pôde acabar, e não pode, ele começou a discursar e fechar bingos com metralhadoras, bombas de gás lacrimogênio, essas coisas.
Cláudia Gaigher – Zé Dirceu tem algum envolvimento com os jogos?
Servo – Eu não creio. Conheço o Zé Dirceu, tive com ele poucas vezes, mas eu acho que não tem envolvimento nenhum. Mas o secretário direto do Zé Dirceu, que era o Valdomiro, ficou provado através das gravações telefônicas e televisão, corrupção comprovada e tá na rua o Valdomiro. Lá quando o Cachoeira tava dando dinheiro no aeroporto em Brasília, uma coisa assim.
Hudson – Então foi assim, o senhor chegou, em 2003 quando teve problema com o Requião, o senhor ligou pro Lula, aí o Lula prometeu essa comissão que realmente houve. Aí no senhor acha que não foi pra diante por causa do Valdomiro?
Servo – Com certeza absoluta. Eu não participei dessa comissão mista, mesmo porque não tinha porquê. Mas estava por ser regulamentado o jogo quando aconteceu isso. Era próximo do carnaval quando todo mundo esperava a regulamentação dos bingos…
Hudson – O senhor, quando ligou pra ele, ligou como empresário ou o senhor já era da associação, o senhor já tinha deixado a associação?
Servo – Quando eu liguei pra ele eu ainda era presidente da associação. Eu devo ter ligado pra ele em março ou abril ou maio de 2003, na sua casa. E não falei em nome de Nilton Cezar Servo e nem em nome do bingo de Curitiba que meu filho que estava à frente e que havia me ligado. Eu falei em nome de todos os bingos do Brasil. O que eu sei, o que nós sofremos, o que a minha família sofreu e o que as pessoas sofrem. Você adentrar num serviço, ter certeza de um salário, você compromete seu salário numa loja ou outra, fazendo compras à prestação e depois não pode cumprir porque vocês simplesmente fecham as portas.
Eu faço um grande apelo à imprensa que entenda o que é o jogo na realidade. O jogo do bingo é uma coisa simples, é uma coisa de aposentados, é uma coisa que está aí. Não fomos nós que criamos, não começou por exemplo, jogo do bicho, como o jogo do baralho. Foi uma coisa que o Zico apresentou para o Brasil. Existe uma nova opção, uma nova atividade, um comércio empresarial do Brasil e nós adentramos nela.
Cláudia Gaigher – O senhor comprava essas máquinas de São Paulo, como que era essa compra, que o senhor diz que é legal? De quem, como que vinha?
Servo – Eu nunca comprei as máquinas em São Paulo. Eu loquei as máquinas das empresas, as grandes empresas de São Paulo, mesmo porque elas têm programas que as empresas desenvolvem, eles têm técnicos especializados, pra arrumar, pra consertar, pra mudar o jogo quando o jogo não é aceito no mercado. Por que são máquinas caríssimas, né, e eles dependem de parceiros para explorar.
Hudson – E o senhor tinha quantas máquinas?
Servo – Eu acredito que eu tinha umas 180, 200 máquinas.
Cláudia Gaigher – Alugadas?
Servo – Alugadas. Eu cheguei no passado a ter muito mais que isso.
Cláudia Gaigher – E elas vinham montadas ou só a placa?
Servo – Não, as máquinas vinham montadas de São Paulo pra cá ou da cidade onde a empresa fabricava e produzia as máquinas. Vinha máquina com nota fiscal, ICMS, contrato de locação e mais sentença, com a sentença autorizando o uso e tal a atividade.
Cláudia Gaigher – O senhor comprava tudo da Paradise?
Servo – Veja bem, no passado eu peguei em outras empresas, como a Triplay, eu operei com tantas, operei com a empresa de Santa Catarina, a Nidi, mas a Nidi não é multinacional.
Cláudia Gaigher – Nesses últimos anos era qual?
Servo – Nesses últimos eu tava ligado com a Paradise.
Hudson – Quanto o senhor pagava?
Servo – Veja bem, esse tipo de negócio você não é coisa que se combina como no mês paga 100, no outro 200, não é assim. Primeiro você tem que fazer um investimento grande. Você precisa ter uma estrutura boa, ar condicionado, carpete, uma série de coisas. Uma empresa, um local bom. Então a empresa que é parceira tem que ser sua parceira, no lucro e no prejuízo. Então em determinado momento vai ver se as máquinas estão dando lucro pra cobrir as despesas e o que está sobrando e aí a gente começa a discutir, porque se as máquinas não tiverem funcionando a contento das empresas elas mandam retirar e levam embora pra outros lugares.
Hudson – Quanto rende uma máquina?
Servo – Depende, R$ 50 a 100 por dia. Estamos falando de máquinas profissionais . Tem máquinas de R$ 200 e até R$ 500, mas não existe essa média de rendimento pelo seguinte, porque existem os prêmios acumulados, de R$ 10, 20.,, até 80 mil. De repente ela vai rendendo 15 a 20 dias e você paga um prêmio de R$ 80 mil. Mas mesmo assim não passa de ser uma boa atividade, e diga-se de passagem, que as máquinas pagam muito bem. A devolução delas é acima de 90%. E as pessoas falam “mas como é que devolveu 90%”? Ué, mas se elas não devolverem 90%, porque as máquinas nos EUA, por lei, têm de devolver acima de 89%. Aqui existem máquinas que devolvem acima de 90%. Porque se você tomou um empréstimo de 5% ao mês, já é um peso pesado. Imagina uma máquina trabalhando e que no final do mês vai ter um retorno de 7,8%.
Hudson – A Polícia Federal afirmou que as máquinas rendem R$ 250 mil por dia, aqui no Estado.
Servo – A PF, acho que eles estão sabendo mais do que a gente. Precisa trabalhar no mercado e no ramo pra ter tal informação, né.
Hudson – Quanto movimenta?
Servo – Eu não creio quanto movimentam essas máquinas de rua por dia, mesmo porque não é minha praia mexer com máquinas de rua.
Cláudia Gaigher – Mas 250 mil por mês…
Servo – É um sonho
Cláudia Gaigher – Por dia… 250 mil por dia…
Servo – Eu acho que é um sonho…
Hudson – Houve novos encontros ou contatos com Lula?
Servo – Eu tive mais alguns encontros com o Lula, mas em atividades como Presidente da República, em ações cheias de protocolo. O máximo era cumprimentar o presidente, nenhuma oportunidade tomar um cafezinho num balcão de hotel, alguma coisa parecida.
Hudson – Nenhum conversa, nenhum pedido… Nenhuma conversa com relação a voltar atrás na medida provisória?
Servo – Não, mesmo porque quando eu tive os bingos de Campo Grande fechados, e do Paraná, eu tinha me afastado da atividade. Estava fora quando eu fui chamado por alguns empresários de São Paulo que estavam com uma sentença, que essa sentença tinha validade. Então eu fui consultar se de fato essa sentença era válida e, vendo que era válida e respeitada inclusive pela Polícia Federal de Mato Grosso do Sul. Os mesmos policiais que me prenderam, a mesma polícia que esteve na nossa casa, no bairro Carandá, e respeitou as notas, a sentença e a mp. Só que da última vez eles foram às 6 da manhã, não havia funcionários, não tinha ninguém, mesmo porque o cara só abria às 2 horas da tarde.
Cláudia Gaigher – Desde o início da conversa o senhor fala da medida provisória que permite trabalhar com bingo. Por que o senhor fica tão irritado diante de tudo está acontecendo?
Servo – Porque está havendo um abuso de poder. Existe um limite pra esse abuso, pra prepotência, pro arbítrio e esse limite esbarra no direito de cada cidadão. Se existe uma medida vigente ela tem que ser respeitada. Então tem que rasgar a constituição. (Atualizada às 15h45) (RMT-Online – Portal MS – Fonte : Redação TV Morena)