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O custo da hipocrisia por Carlo Barbieri*

12/11/2012

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Há 66 anos o Brasil fechava os cassinos no país. Nestes anos de 1946 até hoje, esta proibição contribuiu para a criação de jogos dominados pelo Estado, com sua consequente mazela política, aumento da corrupção do aparelho repressor, ceifa e empregos e remessa de divisas ao exterior.

Enquanto nos EUA, a ampliação dos jogos e sua regulamentação têm ocupado a agenda do Executivo e Legislativo, com o escopo de aumentar a receita pública nesta fase de orçamentos esvaziados pela crise, no Brasil vemos seguir a hipocrisia e a decisão segue pelos porões dos dois poderes.

Líderes de algumas religiões cristãs atacam o jogo. Tentei descobrir na Bíblia, que embase esta resistências ao jogo. Nas mais de 2.300 páginas de minha Bíblia de estudos, não encontrei nada condenando o jogo. Aliás, apenas algumas palavras relacionadas ao entretenimento. A própria passagem de Mateus 27.35 em que se refere aos soldados romanos lançando sorte sobre as vestes de Jesus, pode-se condenar o fato maldoso e desrespeitoso, mas não o jogo em si.

Há que se considerar, do ponto de vista moral e religioso, a condenação a todos os vícios, pois “o homem é escravo do que o domina” 2 Pedro 2:19, mas isto se aplica à submissão do homem a qualquer pensamento ou atos sobre os quais perca o controle, valendo para a comida (gula) a bebida (embriaguês), ao sexo (luxuria), etc. Mesmo nos sete pecados capitais não está o jogo.

Do ponto de vista científico, está sobejamente comprovado que os jogos, sejam quais forem, inclusive o bingo, ajudam ao desenvolvimento cerebral e inclusive retardam o avanço das doenças degenerativas celebrais como o Alzheimer.

Superadas as restrições de ordem morais e religiosas, e sabedores que somos das vantagens médicas, vamos rapidamente enfocar o aspecto do crime organizado e os crimes que rodeiam o jogo.

Todos os dias, vemos prisões de policiais que ganham para proteger o jogo ilícito. Eles são ilícitos, pois, foram colocados arbitrariamente fora da lei, a despeito do fato de ser uma atividade desejada por uma boa parte da sociedade que vê o jogo como uma das formas de entretenimento, e não quer se privar dela.

As considerações do decreto presidencial de Dutra, que proibiram o jogo no país não poderiam ser mais claras em sua falsidade:

Decreto-Lei presidencial, que fechou os cassinos: "Considerando que a repressão aos jogos de azar é um imperativo da consciência universal; Considerando que a legislação penal de todos os povos cultos contém preceitos tendentes a esse fim; Considerando que a tradição moral jurídica e religiosa do povo brasileiro e contrária à prática e à exploração de jogos de azar”.

Ora, a consciência universal aprovou o jogo, ele é praticado em todos os países desenvolvidos (apenas Cuba e o Brasil não tem jogo permitido nas Américas) e a cultura e a tradição moral do Brasil tinham o jogo desde os tempos imperiais.

Vamos agora aos aspectos econômicos do tema. Quando de seu fechamento, o jogo extirpou o emprego de 53.200 empregos diretos, apenas nos 71 cassinos que funcionavam a época. Hoje, se estima que pelo menos 200.000 empregos seriam gerados de imediato, com a legalização dos cassinos e bingos, sem considerar a parte das oportunidades na área de construção e outros empregos indiretos.

Do ponto de vista tributário os técnicos entendem que cerca de nove bilhões estariam entrando nos cofres públicos, ao ano, com a legalização dos jogos. Para esta cifra basta lembrar que a Loteria Federal arrecadou quase seis bilhões de reais no ano de 2008.

E no que tange a evasão de divisas? São dezenas de voos fretados que saem do país por mês para levar jogadores para o Uruguai, Las Vegas etc., fora os passageiros em voos regulares. É a riqueza do país voando para dar desenvolvimento e empregos em outros países.

É preciso tirar esta hipocrisia e enfrentar a questão de frente. Eu vejo a questão aqui na Flórida onde o estado está à busca da ampliação das formas de jogo para aumentar a sua arrecadação e gerar mais empregos.

Há, sem dúvida, a necessidade de ser feita uma legislação que seja clara, para evitar que o jogo venha a servir para barganhas políticas, assim como é necessária toda a atenção para evitar que ele seja dominado pelo crime organizado.

Outra preocupação é que o aparelho do Estado esteja preparado para evitar que este lazer e diversão sejam convertidos em lavagem de dinheiro ou que se engane a população que busca entretenimento com equipamentos viciados.

Uma boa iniciativa, que está sendo discutida aqui nos EUA, é que os cassinos devem estar em águas salgadas e em grandes embarcações, limitando assim sua amplificação desmesurada.

Enfim, sem hipocrisia esta pode ser uma solução e não um problema.

(*) Carlo Barbieri é presidente da Oxford Group e do Brazil Club – USA, membro do Board da Deerfield Chamber of Commerce, professor da  Enterpreneurship Academy, membro do Conselho Editorial do Boca Raton Tribune, correspondente da Revista Banco Hoje e da Revista Mercado Comum.